Nos dois jornais paraenses, cujas
“pesquisas” publicadas neste fim de semana foram noticiadas aqui ontem, estão
chamadas de primeira página com ataques a adversários, não dispensando sequer
os familiares dos candidatos. Trata-se dessa forma arraigada de denuncismo
irresponsável que termina por relativizar as verdadeiras denúncias, criando no
eleitor um ânimo de que tudo está, efetivamente, entregue nas mãos dos piores
bandidos e que, no limite, implica no incentivo à aversão à própria democracia.
Denunciar é preciso, mas vulgarizar a
denúncia é ato antidemocrático, como fez, no nível nacional, Marina Silva, tal
como mostrado por Janio de Freitas, a respeito da frase da candidata numa
entrevista à Rede Globo: "Um partido [que] coloca por 12 anos um diretor
para assaltar os cofres da Petrobrás". Ela se referia ao PT. Por
isso, Marina está sendo processada.
No Brasil a tradição da baixaria
indica que, salvo raras exceções, os próprios candidatos não se acusam
diretamente, mas entregam a tarefa a seus marqueteiros que, por sua vez, falam
pela boca de apresentadores muitas vezes desconhecidos.
Algumas das muitas questões que a
baixaria enseja podem ser: de que forma o eleitor pode confiar no governo de
quem, na campanha, utiliza desses métodos para ganhar eleição? Quando no poder,
deixarão de lado a baixaria, contribuindo para a construção da democracia e da
justiça social ou, escancaradamente, já estão dizendo ao povo, no correr da
campanha, como é que se comportarão no recôndito dos palácios?
Não é segredo que o Pará tem
problemas imensos à espera de soluções, entre eles, a mega-questão de ser ou
estar para ser o maior canteiro de obras do País – sobretudo hidrelétricas,
mineradoras, agronegócios, portos, ferrovias e rodovias – para produzir e
movimentar riquezas que não se destinam ao bem-estar mínimo dos paraenses. As
cidades crescem e com elas os problemas urbanos que todos conhecemos, inclusive
a crescente violência. Cidades, a começar da capital, entregues à desordem
urbana e à falta de saneamento.
Será isso pouco para o debate dos
candidatos? Ou eles esquecem tudo isso para se engalfinharem nesse lamaçal que
contradiz algo que possam dizer de positivo e gerador de esperança? Ou
continuarão dando razão ao velho adágio segundo o qual o candidato afirma: “o
que faço na vida pública é o mesmo que...”? (Manuel Dutra, extraído de seu blog)
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