segunda-feira, março 02, 2015

À espera de que o governo chegue com os espelinhos

            A obra da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós está a caminho. Esse é o recado que o governo federal manda, ao anunciar que quer promover o leilão dessa mega construção até o final deste ano. Isso, porque não será possível fazer o leilão até abril próximo, como desejava, porque existem pendências relativas ao licenciamento ambiente que precisam ser sanadas.
            Houve uma mudança na estratégia de abordagem desse delicado tema por parte do governo, deixando de lado a arrogância e a prepotência do ex-titular da Casa Civil, Clóvis Carvalho. Seu substituto, o ministro Miguel Rossetto utiliza-se de um tom mais moderado na tentativa de baixar um pouco a temperatura do diálogo que estava muito elevada e que certamente conduziria a conflitos inevitáveis, cujas consequências seriam imprevisíveis.
            Uma prova dessa nova postura do governo foi o gesto de Miguel Rossetto de receber indígenas da etnia Munduruku, da região do Tapajós, que embora nada tenha resolvido na prática, ao menos demonstrou a abertura de um canal de diálogo. Partindo-se do princípio do ditado que diz, que um mau acordo é melhor do que uma boa briga, o governo desarma um pouco o espírito de guerra que estava prevalecendo até então.
            Que ninguém se engane! O governo não ficou bonzinho do dia para a noite. É apenas uma mudança estratégica para tentar convencer a grande comunidade Munduruku, as igrejas que tomam posição contrária, as ONGs, as comunidades que ficam ao longo da região do Tapajós as quais serão diretamente afetadas por essa grande obra, e demais pessoas que lutam contra a construção das usinas hidrelétricas na Amazônia, de que tudo vai ser feito em concordância com todos e em obediência às leis.
            Enquanto isso, tudo continua como dantes no quartel de Abranches. O que isso quer dizer? Quer dizer que em Itaituba as coisas continuam exatamente como sempre estiveram, em relação à discussão desse empreendimento, na estaca zero, porque o comunidade itaitubense tem-se mostrado apática para tratar de uma questão tão relevante, que vai lhe causar um enorme impacto.
            Daqui a pouco vai chegar o governo com seu rolo compressor, trazendo alguns espelhinhos para tentar comprar a nossa aquiescência a esse mega projeto. E, provavelmente, nossos representantes públicos, prefeita, vereadores e deputados vão bater palmas e soltar foguetes, afirmando que vai ser bom para todos nós, tecendo loas aos “invasores”, assim como acontece neste país, desde o seu descobrimento. Restaria a sociedade civil, por meio de suas entidades organizadas nos representar, chamando o restante da população para tomar posição, quando isso for necessário. Mas, nossa sociedade tem olhado a tudo que acontece, de bom e de ruim sem se manifestar.
            É assustadora e ao mesmo tempo preocupante essa letargia dos itaitubenses, da gema e de coração. Muita gente só pensa nos lucros que acha que virão com facilidade, sem pensar nas consequências negativas provocadas pelo grande impacto que a chegada de milhares de pessoas vai causar em todos os setores da vida deste município. Tem pessoas de Itaituba que quando visita Altamira, voltam deslumbradas, porque só vê o que alguns interessados em mostrar o lado bom querem mostrar. Não se informam sobre a verdadeira realidade, e alienados, terminam voltando com uma visão atrofiada. Esses, em nada podem ajudar o município em que vivem.
            Até agora não conseguimos aprender nada com a experiência de Altamira, que se por um lado está ganhando algumas obras estruturantes de grande importância para a melhoria da qualidade de vida daquela população,  por outro, sofre com o atraso enorme na implementação de tais obras, e com outros efeitos colaterais perversos, dentre os quais o mais notório é o desenfreado aumento da violência que tem levado aquele município a frequentar os noticiários policias e fazer parte de relatórios negativos, nacionais e internacionais por causa disso.

            Uma coisa é certa: a violência está se antecipando, chegando a Itaituba e adjacências com muita antecedência. Basta fazer um rápido retrospecto dos últimos acontecimentos do noticiário policial. Os outros efeitos colaterais não tardarão a chegar, talvez, manifestando-se com maior grau de perversidade do que ocorreu com Altamira, que discutiu a hidrelétrica de Belo Monte por muitos anos. Nós, nem discutir a obra de São Luiz do Tapajós conseguimos. Vamos continuar esperando que os navios dos colonizadores aportem para levar nossas riquezas, deixando espelhinhos em troca.

Editorial - Edição 195 do Jornal do Comércio, circulando

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