Blog do jornalista Manuel Dutra - O secretário estadual de Meio Ambiente, José
Alberto Colares, informou há pouco a este blog que, das 60 dragas utilizadas
nos garimpos da banda Oeste/Sudoeste do Pará, e que reviram o leito do Tapajós
entre os municípios de Jacareacanga e Itaituba, só restam 40 nessa posição. As
outras 20 estão se relocalizando nos tributários, ou seja, nos rios menores e
nos igarapés que deságuam no grande rio. Para fazer um levantamento completo
dessa situação, Colares informou que uma equipe de sua secretaria e de várias
outras instituições, incluindo a Polícia Militar, entrará na região no começo
de maio.
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Foto: SEMMAP |
O secretário, que irá a Itaituba no
próximo dia 25, recorda que a presença de dragas nos cursos tributários está
proibida, em virtude dos enormes estragos que essas máquinas gigantescas são
capazes de provocar no meio ambiente, revirando os leitos dos rios e despejando
resíduos de mercúrio e cianeto nas águas, ameaçando toda a bacia do
Tapajós.
Quanto ao acordo entre o governo do
Estado e a Universidade Federal do Oeste do Pará, a UFOPA, e possivelmente
também com o Instituto Evandro Chagas, com vistas à realização de uma pesquisa
que esclareça de uma vez por todas os níveis de contaminação dos rios da região
Oeste do Pará, José Colares disse que está empenhado na busca de recursos junto
á Secretaria Estadual de Comércio e Mineração, com parcelas da taxa mineral,
que é cobrada pelo governo aos donos das dragas.
Esse recurso será, segundo Colares,
aplicado no deslocamento de equipes de pesquisadores e nas demais necessidades
requeridas pelo levantamento. A pesquisa sobre a quase certa contaminação das
águas do Tapajós e de seus principais afluentes foi objeto de uma Petição
Pública que gerou uma carta aberta ao governador Simão Jatene. A carta foi
entregue em mãos ao vice-governador Helenilson Pontes, no dia 13 de fevereiro
passado, em Santarém, contendo 1.728 assinaturas.
Os signatários da carta ao governador
Simão Jatene dão um prazo para apresentação dos resultados da pesquisa até o
próximo mês de junho, quando os rios estão cheios, devendo ser realizada outra
pesquisa em período de vazante, quando os volumes de água são infinitamente
menores e os efeitos da contaminação podem ser ainda desastrosos sobre a saúde
pública e a economia regional.
Na carta ao governador, os
signatários afirmam que “do ano passado a este início de 2014, são cada dia
mais frequentes informações e notícias sobre a possível mudança de coloração do
Rio Tapajós entre a sua foz, diante de Santarém, e seu curso médio, acima da
cidade de Itaituba. Retornam, assim, as lembranças daquele período, quando as
praias ficaram enlameadas, cardumes foram contaminados conforme atestado na
época, pessoas adoeceram em virtude da contaminação da cadeia alimentar
aquática, e a população do Vale inteiro assistiu a seu belíssimo rio
transformar-se em um corpo estranho em pleno coração do Pará e da Amazônia”.
Por isso pedem que seja realizada
imediatamente, no momento em que os rios do Oeste estão cheios, uma pesquisa de
campo a ser efetivada por pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do
Pará e da Federal do Pará, e possivelmente também do Instituto Evandro Chagas,
para responder a estas perguntas básicas: O Rio Tapajós e seus principais
afluentes estão sofrendo processo de contaminação por elementos físicos e
químicos estranhos à sua composição hídrica natural?
Esta pergunta se desdobra
(em caso afirmativo): Que elementos contaminantes são estes? Quais os níveis da
presença de elementos estranhos nas águas do rio? Há riscos para a saúde animal
e humana? Há contaminação da fauna aquática, especialmente das espécies mais
consumidas na região? Há contaminação do plâncton e da cadeia alimentar? Já
existe contaminação humana? Há mudança de coloração das águas do Tapajós? A
pesquisa de campo, a depender dos pesquisadores, poderá repetir-se nos meses de
setembro e outubro, quando os rios estão baixos.
Além da necessidade imediata de
saber-se se as águas de quase metade do Pará estão contaminadas, o que os
signatários da petição querem é que se comece a pensar no vasto interior
paraense, que se pense nas formas de economia que serão ou seriam gravemente
afetadas pelo possível comprometimento de um dos mais importantes eixos da
economia regional, que é o Tapajós.
A região vive uma completa
irracionalidade, com o poder público e o setor privado realizando investimentos
no turismo, por exemplo, ao mesmo tempo em que ambos incentivam a atividade nos
garimpos que, por natureza, são altamente poluentes. Suja-se lá em cima e
chama-se turistas para visitarem aqui em baixo. Milhares de empregos estão em
jogo.