segunda-feira, fevereiro 13, 2017

Ou nós mudamos a nossa relação com essa máquina, ou nós seremos completamente engolidos por ela.

"Nós agigantamos o Estado. Colocamos a burocracia pra tomar conta de estatais de petróleo, mineradoras, bancos. E esquecemos da função primária de qualquer governo: proteger a integridade física das pessoas. Um Estado inapto em se organizar minimamente para oferecer segurança aos seus pagadores de impostos é incapaz de administrar o que quer que seja.

Nós pagamos muito pouco aos agentes públicos responsáveis pela nossa segurança. Mas empregamos, só no Congresso Federal, 28 mil funcionários que custam cinco vezes mais do que gastará esse ano o Espírito Santo em segurança pública para quase 4 milhões de pessoas.

Nós criamos uma verdadeira realeza em Brasília. Apenas para abrir a porta aos nossos nobres políticos, um porteiro do Senado ganha 9 vezes mais do que um policial militar do Espírito Santo recebe para proteger a vida dos cidadãos.

Nós desarmamos completamente a população e não permitimos que pessoas treinadas pudessem defender suas próprias vidas e as suas famílias. E tudo isso supostamente pelo bem delas.

Nós matriculamos presos comuns em verdadeiras escolas do crime e enjaulamos os cidadãos em suas próprias casas porque somos incapazes de gerenciar com dignidade nem mesmo uma penitenciária.

Nós solucionamos apenas 5% de todos os homicídios que são cometidos num país com quase 60 mil assassinatos, construindo um cartaz gigante a qualquer delinquente, dizendo que por aqui ele pode agir da forma mais impune possível. E quem mais paga a conta por isso é justamente a parcela mais pobre da população.

Nós sustentamos o Judiciário mais caro do Ocidente, inepto, lento, incapaz de oferecer Justiça à vasta maioria das pessoas.

Nós elegemos o segundo Congresso mais caro do mundo, incompetente em construir uma legislação legível que proteja o bem-estar das pessoas. Um país que cria 4.960.610 normas para reger a vida dos seus indivíduos, foi construído para atrapalhar seus cidadãos, não para auxiliá-los.

Nós deixamos de levar boas instituições às periferias. Negamos direitos de propriedade. Negamos mobilidade social através dos instrumentos de mercado. Negamos justiça.

O que acontece nesse momento no Espírito Santo é uma consequência inevitável do que nós mesmos criamos: uma máquina supostamente construída para cuidar da nossa segurança, mas que cara, em obesidade mórbida, entregue ao parasitismo, realiza o exato oposto do que promete.

Ou nós mudamos a nossa relação com essa máquina. Ou nós seremos completamente engolidos por ela.

Toda força do mundo a vocês, capixabas!

Rodrigo da Silva, editor do Spotniks

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