Antônio Tabet (O Globo) |
— Roberto,
o colega me permite fazer uma pergunta de cunho pessoal?
— Evidente,
Marcelo!
— Você acha
que a coisa vai ficar feia?
— Ô, se
vai!
— Já tá,
né?
— Opa! Mas
vai piorar.
— Também
acho. Muito!
— Quando
chegar nele...
— Nossa!
Quando chegar nele...
— Imagina a
quantidade de gente que vai aparecer aqui na porta!
— Vai
parecer Copa do Mundo.
— Copa do
Mundo no 7 a 1, né?
— Não. Quis
dizer que vai ter muita gente comemorando.
— E
protestando.
— Sério?
— Claro,
Marcelo.
—
Protestando por quê?
— Porque
não temos provas.
— Não?
— Não.
— Peraí. É
muita coisa, Roberto.
— Tipo...?
— Tipo a
venda do acordo de leniência.
— Tá. Mas
cadê a grana?
— Tem o
repasse ilegal pra campanha deles em São Paulo em troca do tal Certificado de
Incentivo.
— Tá. Mas
cadê a grana?
— Tem
também os milhões para aquela concorrente da “Veja”, a comissão das
empreiteiras pro partido dele, o tráfico de influência em Angola, os contratos
com a empresa do filho que nunca trabalhou no ramo, as doações ao Instituto, as
palestras que ninguém viu, as mochilas recheadas que o assessor do Italiano
trazia, a “mesada” pro irmão, além de toda a campanha da outra lá.
— Mas não
tem grana, percebe? Cadê as contas no exterior? Cadê os cofres? Precisa de
alguma coisa concreta. Prova!
— Tem o
sítio, o tríplex e o pedalinho.
— Porra!
Mas isso não é grana.
— Não?
— Claro que
não. A mulher do Cabral, numa tarde de joalheria, gastava dois sítios e três
tríplex desse. E os pedalinhos... Francamente, né?
— Roberto,
ele não é que nem os outros.
— Evidente
que não, Marcelo. Ele é muito melhor.
— “Pior”
você quer dizer.
— Depende
do ponto de vista. Contra os outros, nós tivemos provas. No caso dele, vão
chamar de inocente, imbecil ou gênio do crime. E olhando bem pra cara dele...
Adivinha.
— Mas não é
porque ele não ostenta que é menos criminoso, né? Ele pode não ter dinheiro no
colchão, mas os amiguinhos e os parentes...
— Aí é que
tá. Ninguém vai vir aqui na porta por causa de amigo ou parente. O problema é
ele! Depois que o Pelé sumiu, que o Roberto Carlos ficou antipático e que a
Xuxa foi pra Record, coitada, parece que ele pegou esse vácuo. Ele é uma
espécie de Papai Noel dos alunos melequentos da turma do fundão, sabe? Vão
dizer que é tudo perseguição da mídia.
— Roberto,
só durante o governo dele foram dezenas de contratos nos “países vermelhos”.
Quase todos daquela mesma empreiteira. Podem muito bem ter depositado lá fora.
Aí, já era. Os caras não têm nem papel higiênico e você quer o quê? Recibo de
propina? Com carimbo cubano? Venezuelano? — riu.
— É sério.
Todos os outros incriminados tinham. De um jeito ou de outro.
— Bom...
Então você tá me dizendo que se os irmãos dele, o braço direito dele, o partido
dele, os marqueteiros dele, o instituto dele, a sucessora dele, o sítio dele, o
tríplex dele e até os pedalinhos dele recebiam dinheiro ilegal, ele é inocente
porque a grana não tá com ele agora? É isso?
— É isso.
— Precisa
da grana.
— Precisa
da grana.
— Precisa
de prova.
— Precisa
de prova.
— Entendi.
Poxa, obrigado pela explicação. Vai me ajudar em uma outra aqui.
— Sério?
Qual?
— Um
suposto assassinato sem cadáver. Vou mandar soltar o goleiro, então.
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